A maternidade me devolveu para o “melhor” que há em mim. E para o “pior” (melhor e pior são medidas que não existem verdadeiramente). Diariamente é o fato de “ser mãe” que pesa para tomar inúmeras decisões. Ser mãe abriu um canal de comunicação com meu Eu mais profundo diante das várias intempéries da vida. Se por um lado despertou o “amar e cuidar”, por outro, reverbera em mim várias sombras adormecidas e ofuscadas pelo Ego.

Hoje, eu decido olhar para esses quatro olhinhos de jabuticaba e me permitir dançar, sujar, bagunçar, rir e celebrar a vida. Decreto que viverei a criança que não fui, mas que clama por diversão. Minha criança clama por unhas sujas de terra, os pés com areia e o cabelo de mar. Meu corpo pede para ser forte para as caminhadas, trilhas e aventuras. Meus olhos querem brilhar como quando encontraram “tesouros perdidos” na infância. Minha garganta que gargalhar por um “erro” cometido. Meus braços querem abraços. minha criança quer brincar com outras crianças de todas as idades e se aventurar na descoberta do mundo. Quero ficar surpresa e admirada com facilidade.

Não haverão mais abraços sem presença, beijo sem afago e tempo desperdiçado.

Haverá bagunça, descoberta, paciência para a vida que não precisa passar voando. Haverá conexão com a alegria de todas as crianças que estão renascendo dentro das pessoas grandes.

A partir de hoje, abandono a carga materna imposta pela sociedade e abraço a maternidade simples, leve e alegre, sem autocobrança por resultado. Passo adiante a responsabilidade de “criar” um ser humano e me abro para descobrir e permitir que meus filhos sejam os seres incríveis que já são. Me permito errar e não caber mais na caixinha da liberdade para abrir espaço e vivenciar ser livre de verdade.

Decreto, para minha vida, que a gratidão seja o ingrediente indispensável na cozinha e não mais as expectativas e medidas. Que o afeto esteja no simples. Que a dosagem da paciência e respeito sejam ilimitadas.

Abro mão dos papéis sociais já estabelecidos para aprender a vivenciar a fluidez e não o controle da vida. Solto as pedras de culpa, a mochila pesada do medo de não ser boa e a vergonha de não atingir minhas próprias metas, para então me jogar no rio desconhecido da sabedoria divina.

Caminho para a entrega. Me abro para partilhar o pão, a conversa, a casa, a vida… Deixo pra lá a inveja, a comparação e a insegurança, permitindo me reforçar no solo fértil do meu coração.

Permito brotar a pureza e a ingenuidade, para florescer cada vez mais gentileza. Estabeleço que cuidarei e honrarei às minhas ancestrais, transbordando cuidados à Mãe Terra, que acolhe e abriga a mim e meus amores.

Ajudarei a semear a alegria de ser quem se é, para que desperte toda beleza de cada um.

Me guiarei pela lua, celebrarei os solstícios e equinócios pelo respeito do pulsar da vida, bem como respeitarei meus ciclos internos, meu sangue, minha lunação meu ventre que já abrigou três filhos até aqui e muitas emoções.

Liberto todas as energias que um dia eu quis controlar. Liberto as dores que causei, a raiva que despertei e as desesperanças. Liberto o medo de amar com todo meu ser, na intensidade infantil da entrega desinteressada.

Decreto com força, quase como um grito, que voltarei a ver minha letras no papel. Voltarei a pensar com lápis e caneta, voltarei a pintar.

Sinto que é hora, ainda tempo, de dançar. De permitir que meu corpo se mova no ritmo da vida, da melodia e da natureza. Permitir a honra de estar nesse corpo sagrado.

Fluidez, conexão, alegria… Se um dia tudo isso foi necessidade de racionalização, hoje é necessidade de vida! Hoje é necessário viver! Abandonar as belas caixas que não servem mais. Abandonar, desapegar: deixar ir os sonhos de outrora para serem a vida de agora!

Me permito despreocupar de ser mãe, para vivenciar a maternidade que cabe somente a nós! Observar, conectar, sentir, agradecer e Ser! Decreto hoje, que este momento, será de intensa presença!

Assim seja,

Nicoly Kulcheski Lachovicz

Verão de 2018

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