Relato do Parto do Lírio (terceiro parto domiciliar)

10 meses se passaram e eu nunca tinha sentido vontade de escrever o relato de parto do Lírio. Escrevi coisas ali, outras aqui, mas nunca tinha feito de forma inteira.
Hoje senti e relembrei esse momento. Ver esse bebê solto, indo pro mundo, brincando com irmãos me fez lembrar o quanto nossa vida é um suspiro, o quanto a infância deles é importante e passa rápido demais.

Quando completamos 37 semanas de gestação eu tive uma gripe muito forte, fiquei de cama, me sentia fraca e fiquei uns dois dias de cama mesmo, com calafrios e dores profundas. Chorava de forma inconsolável. Eu estava com saudade de mim, da minha mãe, da minha vó, da minha infância, da pessoa que eu era e nunca mais seria. Eu chorava de forma consciente sabendo que aquele choro era o último choro que libertaria processos profundos que se encaminhavam para o parto. Eu sentia que o Lírio estava pronto para nascer e pedia apenas mais alguns dias pra eu me recuperar da necessidade de chorar e de ficar na cama. Minha mãe foi pra floripa ficar um pouco com a gente, fez comida, brincou com as crianças e eu me recuperei. Agradeço e honro o cuidado dela naquele momento em que eu qieria ser filha e passaria pela terceira vez por esse portal materno do parto.
Ela foi embora e o Lírio nasceu uns dois dias depois.

38 semanas e as contrações começaram de forma leve. Eu agradecia e sentia. Sabia que era o movimento do meu corpo para receber meu bebê. Eu só ficava imaginando pegar e cuidar, acalentar e acariciar aquele corpinho pequeno que logo chegaria. Poderia ser naquele dia, poderia ser na próxima semana ou ainda mais, então procurei relaxar. Dormi no nosso ninho com os outros filhotes pertinho.

De madrugada ainda, senti uma agua escorrendo e pensei “fiz xixi”. Não era uma água abundante (nos outros dois partos a bolsa só estorou no final então não fazia ideia de como era uma bolsa estourar antes do tp – terceiro parto mas sempre é o primeiro), então levantei e fui ao banheiro. Um pouquinho do tampão mucoso que eu já conhecia. Um misto de medo e excitação. Mas ainda achava que era xixi. Voltei pra cama. Mais um cochilo. Mais água escorrendo. Levantei. Lembrei que se fosse líquido amniótico não seria cheiro de xixi, mas algo parecido com esperma ou cloro, lembrando que eu estava gripada há alguns dias, meu nariz não estava em pleno funcionamento e resolvi perguntar pro meu companheiro o que ele achava. Ele, exausto, levantou, cheirou e disse: é xixi.
Ok, acreditei também que eu estava fazendo xixi nas calças, a cada 1 hora mais ou menos. 😅 A manhã foi chegando. Eu tirei pequenos cochilos e levantei com mais água. Agora ela escorria ao poucos mas ainda não achava que era a bolsa. As contrações eram muito leves.
Mandei uma mensagem perto das 8 da manhã pra nossa equipe de parto domiciliar e a Mari, minha amiga maravilhosa e enfermeira da nossa equipe de parto me passou uma forma de checar se era a bolsa que tinha estourado mesmo. Eu fiz a posição sugerida em cima da cama e constatado: era a bolsa!
Bolsa estourada sem trabalho de parto. Isso era novo pra mim (dois partos domiciliares anteriores e lembro sempre que a sensação é de ser sempre o primeiro).

Sentei no sofá e me senti estranha. O que eu deveria fazer? Relaxar. Dormir. Caminhar. Brincar. Chorar. Um misto de ansiedade e insegurança, junto a uma sensação de: vai nascer!

Fiquei andando pela casa meio perdida. Uma sensação de confusão e insegurança. Medo de que o trabalho de parto não engrenasse logo. Medos e medos. Por volta das 10h senti uma primeira contração mais dolorida. Depois das 11 eu comecei a sentir as contrações ritmadas e mandei msg pra minha mãe dizendo que estava entrando em tp e a bolsa tinha estourado.
Lembro de ter falado com a Mari (enfermeira da nossa equipe de parto) por telefone e enquanto falava com ela sentia muitas contrações. As contrações foram ritmando rápido e lembro do Rodrigo ter ligado pra elas. Tentei almoçar, nao conseguia mais, já não sabia mais o que estava fazendo e a dor foi tomando conta. Lembrei de pensar “pqp de novo tudo isso”, e me senti insegura mas ao mesmo tempo conectada com o meu corpo. Eu ja sabia o caminho, já sabia que não tinha pra onde correr e que era eu comigo mesma.

Pensei em tomar banho, agua quentinha para aliviar e quando liguei o chuveiro, a surpresa: não tínhamos agua. A agua da caixa vazou e ficamos sem nada de água. Justo naquele dia. Lírio não queria vir na água. Ele escolheu exatamente esse dia e tinha muito pra me ensinar sobre aceitação e amor.

Frustrada, irritada e cansada fui pra cama. Eu realmente queria água quentinha. Deitei em quatro apoios, apoiada em um monte de travesseiros e fui sentindo meu corpo.

Rodrigo colocou um desenho pras crianças e veio ficar comigo. Eu já estava na fase ativa, com as contrações bem ritmadas e muito doloridas.

Lembro que falei pra ele esquentar água numa panela. Lembro da nossa doula Bia chegando. Veio com uns paninhos quentes, ajudando a aliviar a dor na lombar. Depois lembro da equipe, do olhar amoroso da mari e da Ju com paninhos, água, cuidado e muita amorosidade.

Eu sentia ela auscutando o lirio bem embaixo e sabia que ele já estava bem embaixo mesmo, quase pronto para chegar. Eu senti uma conexão ancestral indescritível. Naquele momento eu lembrei que todos os bebês nasceram assim, desde os tempos mais remotos, com paninhos quentes e mulheres. Senti essa lembrança tomando conta de todas as minhas células.

Eu lembro que vocalizar cada contração era quase um mantra, uma canção que eliminava meus “demônios” da repressão. Eu queria gritar, uivar e dizer ao mundo que era uma fêmea parindo. Ao mesmo tempo eu ja sentia minha garganta doer e dizia que já não aguentava mais e que sentia que não estava conseguindo. Eu sentia que estava conseguindo e tinha medo de estar enganada. Sensações ambíguas.

Eu lembro exatamente do momento que passou pela minha cabeça que eu estava na posição “errada”, pois eu estava deitada, mas era a posição mais confortável naquele momento e eu olhei para todas as meu redor já sabendo que eu estava no expulsivo e faltava pouco. E também sentia medo de uma laceracao, pois no parto do Ravi esse tinha sido meu maior desafio. Eu perguntei pra Ju se precisava mudar de posição, como se eu precisasse da opinião de alguém e ela, perfeitamente, me respondeu: OUVE O TEU CORAÇÃO. Foi lindo. Era só o que eu precisava pq minha mente já estava querendo me dizer sobre o certo e o errado e parto não é mental.

Meu coração dizia que eu queria que o Lírio nascesse logo, que eu queria sentir aquele bebezinho no meu colo, pegar, acariciar e que se rasgasse, ia rasgar, mas que seria necessário e curador como deveria ser. E mesmo com medo, eu queria fazer força e ajudar meu corpo a trazer esse menininho. Fiz força durante a contração, saiu a cabecinha, senti seu cabelinho, sua cabecinha minúscula entre as minhas mãos. Rodrigo se posicionou para recebê-lo. Brigite e Ravi estavam ali. Olhei em volta e me senti tão feliz. Mais uma contração e a deliciosa sensação do corpinho macio chegando nesse mundo. A deliciosa sensação de parir um bebê, de cocriar com a Grande Mãe, de fazer parte desse mistério. A deliciosa sensação de ser portal da vida. A DE-LI-CI-O-SA sensação de parir com respeito e poder sentir prazer no momento mais incrível da minha vida.

Ele nasceu, acolhido pelas mãos do pai e da mãe, vindo direto para o meu colo. E então o momento que vem depois do parto e é tomado por um nível inexplicável de ocitocina. A leveza de pegar um recém nascido e vivenciar a beleza de sentir a delicadeza e a força do universo num único ser.

A placenta nasceu. Linda. Virou shake, tintura, cápsula, carimbo e filtro dos sonhos. Tanta beleza e tanta vida.

Em algum momento do parto, a Clara chegou e eternizou por meio de fotos, cada um dos momentos e eu sou muito grata por ter dito sim para as fotos ❤

São tantos detalhes. Lírio nasceu cheio de vernix, foi tanto amor e tanta potência nesse parto. Mesmo sem água. Mesmo pedindo água quentinha e achando que em algum momento teria uma piscina quentinha, meu escorpiano veio trazendo suas peculiaridades para o meu viver.

Sou tão grata pela equipe maravilhosa que nos acolheu. Pelas nossas doulas. Pelas fotos. Pelo meu companheiro. Pelas crianças fazendo parte.

Meu rezo é unicamente para que mais e mais mulheres sejam respeitadas em seus desejos e sintam que esse momento pode ser um momento de plenitude, prazer e redescoberta das próprias vidas.

Os bebês merecem um tapete vermelho para o momento que eles chegam nesse mundo.

Decretos para desconstruir minha maternidade

A maternidade me devolveu para o “melhor” que há em mim. E para o “pior” (melhor e pior são medidas que não existem verdadeiramente). Diariamente é o fato de “ser mãe” que pesa para tomar inúmeras decisões. Ser mãe abriu um canal de comunicação com meu Eu mais profundo diante das várias intempéries da vida. Se por um lado despertou o “amar e cuidar”, por outro, reverbera em mim várias sombras adormecidas e ofuscadas pelo Ego.

Hoje, eu decido olhar para esses quatro olhinhos de jabuticaba e me permitir dançar, sujar, bagunçar, rir e celebrar a vida. Decreto que viverei a criança que não fui, mas que clama por diversão. Minha criança clama por unhas sujas de terra, os pés com areia e o cabelo de mar. Meu corpo pede para ser forte para as caminhadas, trilhas e aventuras. Meus olhos querem brilhar como quando encontraram “tesouros perdidos” na infância. Minha garganta que gargalhar por um “erro” cometido. Meus braços querem abraços. minha criança quer brincar com outras crianças de todas as idades e se aventurar na descoberta do mundo. Quero ficar surpresa e admirada com facilidade.

Não haverão mais abraços sem presença, beijo sem afago e tempo desperdiçado.

Haverá bagunça, descoberta, paciência para a vida que não precisa passar voando. Haverá conexão com a alegria de todas as crianças que estão renascendo dentro das pessoas grandes.

A partir de hoje, abandono a carga materna imposta pela sociedade e abraço a maternidade simples, leve e alegre, sem autocobrança por resultado. Passo adiante a responsabilidade de “criar” um ser humano e me abro para descobrir e permitir que meus filhos sejam os seres incríveis que já são. Me permito errar e não caber mais na caixinha da liberdade para abrir espaço e vivenciar ser livre de verdade.

Decreto, para minha vida, que a gratidão seja o ingrediente indispensável na cozinha e não mais as expectativas e medidas. Que o afeto esteja no simples. Que a dosagem da paciência e respeito sejam ilimitadas.

Abro mão dos papéis sociais já estabelecidos para aprender a vivenciar a fluidez e não o controle da vida. Solto as pedras de culpa, a mochila pesada do medo de não ser boa e a vergonha de não atingir minhas próprias metas, para então me jogar no rio desconhecido da sabedoria divina.

Caminho para a entrega. Me abro para partilhar o pão, a conversa, a casa, a vida… Deixo pra lá a inveja, a comparação e a insegurança, permitindo me reforçar no solo fértil do meu coração.

Permito brotar a pureza e a ingenuidade, para florescer cada vez mais gentileza. Estabeleço que cuidarei e honrarei às minhas ancestrais, transbordando cuidados à Mãe Terra, que acolhe e abriga a mim e meus amores.

Ajudarei a semear a alegria de ser quem se é, para que desperte toda beleza de cada um.

Me guiarei pela lua, celebrarei os solstícios e equinócios pelo respeito do pulsar da vida, bem como respeitarei meus ciclos internos, meu sangue, minha lunação meu ventre que já abrigou três filhos até aqui e muitas emoções.

Liberto todas as energias que um dia eu quis controlar. Liberto as dores que causei, a raiva que despertei e as desesperanças. Liberto o medo de amar com todo meu ser, na intensidade infantil da entrega desinteressada.

Decreto com força, quase como um grito, que voltarei a ver minha letras no papel. Voltarei a pensar com lápis e caneta, voltarei a pintar.

Sinto que é hora, ainda tempo, de dançar. De permitir que meu corpo se mova no ritmo da vida, da melodia e da natureza. Permitir a honra de estar nesse corpo sagrado.

Fluidez, conexão, alegria… Se um dia tudo isso foi necessidade de racionalização, hoje é necessidade de vida! Hoje é necessário viver! Abandonar as belas caixas que não servem mais. Abandonar, desapegar: deixar ir os sonhos de outrora para serem a vida de agora!

Me permito despreocupar de ser mãe, para vivenciar a maternidade que cabe somente a nós! Observar, conectar, sentir, agradecer e Ser! Decreto hoje, que este momento, será de intensa presença!

Assim seja,

Nicoly Kulcheski Lachovicz

Verão de 2018

Caminhos sobre a criança que eu fui e a mãe que eu sou

Escrever, para mim, é uma possibilidade de estar viva! Colocar as ideias em ordem, prestar atenção em mim mesma. Sair do abstrato ir para o concreto. Parar de escrever é esquecer de mim e estar em entrega maior ao outro (ou outros): o que tem acontecido exatamente nesse momento, somando duas crianças pequenas e muitas ideias querendo ganhar forma com o pouco tempo que resta!
Escrever, para mim, é desabafar. Dar nome aos sentimentos, às ações e ao cotidiano. Por esse motivo, quero retomar a palavra solta, a frase incompleta e os textos de blábláblá.

Nos últimos tempos, estamos muito envolvidos com os processos de educação, principalmente de nós mesmos. Estou envolvida com um ambiente interno muito especial: minha criança interior! Descobrir quem eu fui, e quem eu deixei de ser quando cresci, tem me transformado intensamente. Redescobrir minhas brincadeiras, meus sonhos, minhas necessidades de criança ao observar meus dois filhos me fazem revisitar minha história, aceitar o que preciso aceitar e transformar o que precisa ser transformado.

Eu tenho lembrado muito de como sempre fui criativa e sempre tive paixão e prazer na escrita. Mas também como passei a me cobrar para escrever corretamente e ter uma vergonha imensa de mostrar o que escrevia. Vergonha, timidez, frutos de um medo da rejeição, da não aceitação… as crianças não tem isso né (a não ser que a gente introduza isso desde cedo nelas). As crianças são espontâneas e estão muito alinhadas com suas verdades. Quando foi que eu perdi isso? Onde foi que eu deixei minha vontade imensa de colorir o mundo? foi quando criança? foi quando entrei na faculdade? quando sai dela? quando me frustrei profissionalmente? quando me tornei mãe? Quando deixei de valorizar minha verdade interior para fazer parte de uma sociedade bagunçada, que prioriza aparências?

Há algum tempo, nesse movimento, tenho descoberto coisas tão legais sobre mim e sobre o mundo que tenho vontade de pegar aquela menina (eu) no colo e trazê-la para brincar, para ser acariciada e relembrada. Para lembrar a ela o valor imenso de ser criança e a possibilidade encantadora de estar envolvida em suas brincadeiras. As vezes eu quero dizer pra ela o quanto eu sei que é sério brincar e que é na brincadeira que se constrói o mundo. Tenho vontade de abraçá-la bem forte e dizer que o mundo é maravilhoso, com tantas possibilidade e que tudo o que sonhar pode ser realizado, em grandes ou menores escalas, mas tudo é possível. E gostaria de dizer para ir além. Para sair da caixinha. Para se sujar. Para virar a lata de tinta, pisar na areia e molhar as roupas. Gostaria que ela soubesse o quanto os pais a amam e pudesse se sentir amada, segura e acolhida a todo momento. Gostaria também de dizer a ela (eu) que és realmente livre e que isso é muito importante. Livre para ser quem é…

Nesse olhar atento e consciente buscamos enxergar nossos filhos, permitindo que eles sejam livres para serem quem já são e que possam entregar o mundo a beleza que já tem dentro de si. Livres de nossas expectativas, livres dos nossos preconceitos, julgamentos e estereótipos. Livres para escolherem o que vestir, o que comer e onde ir (dentro de um Universo seguro). Eu escolho revisitar minha infância para curar a criança que eu fui, para que assim, os filhos que tenho não carreguem as minhas dores. Que a minha criança ferida não os machuque, afinal, criança encolhida vira adulto com medo e cria filhos com medo do mundo. Pais que curam suas feridas, permitem que seus filhos se curem também e estejam abertos a serem vistos emocionalmente também.

Nesse Universo da maternidade, passei um tempo pesquisando sobre maternidade e outro tanto descobrindo e desconstruindo tudo o que aprendi. Hoje percebo que o maior aprendizado está na nossa relação que se faz no tempo real, no agora, com presença, observação, escuta e atenção plena. O amor e o acolhimento se dão numa eterna comunhão de “eus”.  O afeto se coloca entre as pessoas como uma cola que nos liga a partir do olhar de cada um para si e para o mundo.

Dentro disso, de tantas desconstruções, de tantos desatinos e novidades, de tantas redescobertas e vontades de concluir os sonhos deixados na infância, seria uma cidade suficiente para nós? uma vida pacata, com rotina estável e linear? Impossível? Acredito mesmo que nosso espaço de relações está nesse mundo lindo, profundo e intenso!

Que aventuras nos esperam mais pra lá do oceano? Que aventuras nos esperam nas águas de nós?

E quando a maternidade fica pesada?

E quando a maternidade fica pesada?

A gente joga fora as pedras que carrega na mochila e segue em frente, de mãos livres, costas leve, pés conscientes e coração pulsando.

A gente joga fora as expectativas, joga fora a necessidade de estar certa, de ter controle, de acertar! Joga fora a possibilidade e a vontade de ser “perfeita”, de não errar! Joga fora às regras, o relógio, o celular, a televisão, e tudo o que pode te dizer como fazer “melhor”.

Nós não precisamos ser melhor, esse é o segredo! Basta permitir que o real floresça. Basta permitir e aceitar que tudo é como é, que tudo já é belo. Basta compreender apenas o ritmo interno, o ritmo especial que a família tem, as caras, bocas e jeitos de representar cada papel que a vida exige!

Tudo fica simples quando a gente deixa de lado as regras e formas de fazer que vem de fora e passa a descobrir a forma que nos cabe e que vem do nosso coração. A intuição é nossa grande aliada, o coração sabe o caminho e nós não precisamos cumprir nenhuma exigência da sociedade para sermos “boas mães”.

Coração aberto, mente tranquila, alma leve, presença e consciência! Fluidez!
Se a gente não sabe como fazer, basta observar ativamente uma criança: elas ensinam o tempo todo ❤ 

Nascimento da Brigite

Relato de Parto Domiciliar
Nascimento 19.04 (39 +5)
Segundo parto domiciliar.

“confia no teu corpo”, “as mulheres fizeram isso desde sempre, você carrega agora toda força ancestral”, “Só respira!”, “a dor é proporcional a tua força”, “gratidão universo por me permitir sentir tua força. Força do vendaval, da tempestade, do furacão, do vulcão, do nascimento. Você e Universo são força única agora”…

Esses eram os pensamentos nos momentos mais especiais do meu trabalho de parto, principalmente nos momentos em que fiquei sozinha debaixo do chuveiro, sentindo cada contração, sentindo a água e o chão.

Tentando ser linear sem ser, senti vontade de escrever nosso relato de parto: intenso, especial, curador e forte!

Lembro aqui que no parto do Ravi (também um parto domiciliar planejando) intenso e especial eu tinha a sensação de não ter conseguido vencer a dor. Me senti menina, fraca diante de tanto poder, e com esse sentimento prossegui até uns processos de cura muito sagradas… mas Brigite finalizou essa cura. Nós passamos uma gestação muito muito difícil emocionalmente. Passei por coisas que ninguém poderia imaginar, mas com muita dor fui trabalhando cada nó e me preparando para nova fase da vida. Quase desisti de tudo muitas vezes, mas eu sentia que nossa família merecia o presente de receber a Brigite em casa, amparada pelo pai e pelo irmão. E assim foi…

Na noite de 39+4 me concentrei muito em mim, queria muito que ela nascesse, queria recebê-la. Tomei um banho com velas, óleos essenciais, massagem e carinho por mim. Estava sentindo meu corpo trabalhar desde 37 semanas.
Antes de dormir senti uma primeira contração efetiva, daquelas que me fizeram pensar: vai nascer!
Ravi mamou bastante, eu estava pensando na minha prima que estava parindo naquele momento e me trouxe uma energia especial. Adormeci. Por volta das 2h41 acordei com cólicas doloridas. Fiquei em silêncio para não acordar o Rodrigo e o Ravi. Olhei no relógio e estavam vindo de 20 em 20 minutos. Fiquei feliz… senti que ia engrenar.
Fui ao banheiro, voltei, começou a ficar desconfortável. 8 em 8 minutos e ja precisava me mexer, encolher, me massagear na contração. 4h da manhã. Mudei de quarto. Rodrigo foi ver e pedi pra ele voltar a dormir. Eu estava feliz. Sentindo meu corpo, explorando a contração, percebendo de onde ela vinha e onde parava. Barriga dura, dor lombar, dor no baixo ventre. Corpo trabalhando.
Por volta das 8h as contrações estavam a cada 5 minutos, fui tomar um banho, Rodrigo Já estava acordado me ajudando a cronometrar em alguns momentos. Estava desconfortável. Liguei pra minha mãe e pedi pra ela vir. Não sabia se ia nascer logo mas queria um apoio para o Ravi.
Esqueci de dizer que era Lua Minguante. Dizem que são os partos mais demorados. Eu tenho uma relação forte com a lua minguante. Foi nessa lua que veio mexendo nossas águas e trazendo nossa Brigite.
O dia todo permanecemos igual. Dor, caminhar, bola, sentar, levantar, não conseguir deitar, entra no banho, sai do banho, cronometra, nao evolui. Eu estava muito conectada mas queria sentir a partolandia, a desconexão, a lua fora de curso dentro de mim. Depois de uma caminhada, já 16h eu senti que não estava evoluindo e comecei a ficar cansada. Eu queria parir. Queria sentir o corpo evoluindo (cabe um parênteses aqui pois na hora estava com pressa mas vi que foi bem melhor assim, meu corpo se abrindo devagar, beeem devagar, me permitindo ficar conectada e grata). Depois da caminhada, do quase choro e já não saber mais o que fazer fui para o chuveiro. Rodrigo fez o Chá da naoli. Me entregou no banho e esse foi o momento da Lua Minguante dentro de mim. Meu momento de ir pra caverna, de me sentir conectada com as minhas partes sombrias e tudo aquilo que vivenciei na gestação. Eu estava muito feliz por me permitir o parto domiciliar, me permitir esse momento tão sagrado de trazer a luz, com minha força e conexão, um novo ser. Foi aqui que todos aqueles pensamentos de força vieram para minha mente. Foi aqui que senti que estava engrenando. Mas ainda me sentia no controle. Eu queria perder o controle. Rodrigo estava conversando com a enfermeira obstétrica que estava se dispondo a me examinar, até porque eu achei que a bolsa tinha estourado pela manhã. Contrações demoradas, 4 em 10 minutos. Eu me sentia meio “fora do ar”. Aline (EO) chegou por volta das 18h30. Sai do banho. Contrações pararam. Coloquei uma roupa e fiquei meio triste. Nenhuma contração acontecendo. Conversamos. Ela fez um toque e a surpresa: 7 cm de dilatação. Eu não acreditava, fiquei feliz embora não sentisse que meu trabalho de parto estava engrenando. (Aqui vale outro parênteses, pois foram 7 cm devagar mas sem sofrimento, meu corpo sendo legal comigo, diferente do parto do ravi que em poucas horas estava com 9 e me assustei demais com a intensidade).
Enquanto eu tomava banho o Rodrigo preparou nosso cantinho de parto: piscina, velas, colchão, Ravi ajudando. A presença dele sempre especial, ora mais assustado, ora mais interessado.
Fui do quarto para a sala e todos estavam ali, minha mãe, a Amanda (doula), a Aline (EO) e a Brigite nada. Nessa hora eu travei. Estava tudo preparado praela nascer e eu com essa mente racional tentando entender o que estava “errado”. Por que meu parto não engrenava?
Eu estava muito cansada, por volta das 20h a Aline veio conversar comigo que eu podia descansar um pouco, entrar na piscina para relaxar e que ela iria embora para me deixar sem a pressão de “ter que parir”.
Entrei na piscina. Homeopatia, tinturas e óleos essenciais para auxiliar. Aline saiu, Rodrigo chegou perto e eu chorei muito. Eu precisava chorar. Eu precisava sair do conforto. Eu queria parir e só. Nao queria relaxar. Deitei na borda da piscina, depois do acolhimento do Rodrigo. Minha mãe foi fazer um bolo e uma sopa. E então senti uma contração que veio rasgando minha alma. Me assustei. E logo outra, e mais uma, e outra. Eu já estava aos berros, me sentindo a mulher selvagem sem controle. Comecei a me arrepender, momento de covardia total. Mas sabia que não tinha muito pra onde ir. Coloquei o dedo para fazer um auto toque e senti a Brigite. Comecei a dizer que ela ia nascer. Me sentia feliz e cansada, desesperada com as dores constantes sem tréguas e ao mesmo tempo extasiada por saber que estava acontecendo. Cheiro de bolo, pétalas de rosa, velas… a enfermeira tendo que voltar sem mal ter saído. Intensidade. Em pouco mais de 1 hora Brigite nasceu. Rodrigo me amparando como foi com o Ravi. Contração longa, nasceu a cabecinha, senti a bolsa, a cabecinha pequena e quente. Respirei. A dor foi acalmando para esperar a outra contração e então permitir que ela nascesse por inteira (o que não fiz no parto do ravi). Demorou. Demorou muito. Enfim a contração. quase não fiz força (e não precisa mesmo). Senti ela quentinha, fofinha, saindo do meu ventre e adentrando esse mundo. Uau! Eu chorei. Chorei todas as minhas dores transformadas na emoção de ter conseguido. Me senti dona de mim. Responsável por aquele momento. Ravi na água com a gente, compartilhando aquele momento surpreendente… são tantos detalhes. Muitos deles registrados pelo olhar habilidoso na Amanda. Uma doula incrível e fotógrafa atenta e amorosa.
Sou grata. Rodrigo que mais uma vez se colocou ao meu lado para o nascimento dos nossos sonhos em forma de filhos. A minha mãe, que esteve no lindo lugar de mãe, cuidando, fazendo bolo e sopinha e nutrindo todos nós. À Equipe. Aline que soube a hora de sair e de chegar fazendo toda a diferença para evolução do TP. Cibele, que chegou no final e olhava com um jeito tão amoroso para aquele momento e a karen que veio de um jeito amoroso e divertido logo depois que a Brigite nasceu.
Tantos detalhes, tantos registros mas o mais importante para mim é saber que hoje me sinto forte e mulher por receber minha filha de acordo com o meu coração. Seguindo o desejo real do meu ser.
Brigite veio de presente transformando nossas vidas com intensidade e amor 

Fotos- Amanda Nunes – https://www.facebook.com/fotografaedoula/

 

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Sobre parir (a si e ao outro)

Eu senti meu corpo como um portal. Um portal da vida e da morte. Um momento em que nada permaneceria no lugar, nem meu corpo, nem minha alma. Senti, conscientemente, cada movimento, cada dor, cada vontade e cada desespero, mas dessa vez, eu senti o quanto meu corpo era forte e que ao mesmo tempo que meu corpo parecia não aguentar mais, alguém me lembrava que era uma contração a menos. Eu respirei! Respirei o Universo inteiro e a cada expiração eu sentia a contração diminuir. Por fora parecia que a dor estava me vencendo, mas por dentro eu estava sentindo uma alegria tremenda por estar vencendo a dor. Eu venci minha própria mente que insistia em não parar. Meu corpo se uniu aquela água que me circundava, meu corpo era natureza, era vulcão, era oceano. Meu corpo era força dos ventos que devastam cidades inteiras, meu corpo era de fêmea, que precisava simplesmente respirar! Trabalhamos juntas. Sentir que ela estava chegando e que eu estava fazendo aquilo sem precisar fazer nada, só me permitir, foi a coisa mais incrível que poderia ter acontecido. Me senti capaz, plena, forte e imensamente feliz. Sentir o cheiro do bolo assando no forno e da sopinha que estava feita me fizeram lembrar que eu estava em casa, segura, amada. Sentir as mãos que me apertavam para massagear quando a dor vinha, ora da minha mãe Eloisa Kulcheski, ora do Rodrigo Serviuc Pavezi e sempre da Amanda Nunes, era perceber que eles acreditavam em mim. Sentir o olhar amoroso da Cibele Prado da Luz e da Aline Calça quando a Brigite estava nascendo, na bolsa, como quem olha pra uma jóia preciosa, era tudo que eu queria sentir naquele momento. Minha filha conhecendo o mundo da forma mais bonita e simples. No momento dela, conforme era sua necessidade. Com apoio e respaldo de todos que estavam ali. Sentir o Ravi vibrando junto comigo, empático, e depois olhando para o momento, fazendo parte do nascimento, é saber que estou trilhando o caminho que me fortalece. O caminho que acho certo e belo para seguir.
Uma gestação tão difícil, marcada por várias mortes emocionais e um nascimento e renascimento tão pleno e seguro, marcado pela sensação incrível de que eu faço parte do Universo e que a Deusa está aqui, pulsando e guiando, amparando e amando. Tudo se renovou, se fortaleceu e muita coisa morreu, ficou pra trás. Senti a possibilidade de ser coautora da vida, a cada momento. Só posso agradecer por cada um que fez esse momento ser possível também, acreditando, acolhendo e amando estar onde estava. A natureza sabe o que faz, o Universo coloca tudo no lugar a cada novo ciclo. Brigite vem da Irlanda para fechar um ciclo nos nossos corações e abrir outro, cheio de novas possibilidades. Ter sentido o movimento dela descendo pelo meu corpo para adentrar esse mundo dos mortais e passando por esse grande portal feminino me faz acreditar que um mundo melhor é possível a cada dia. Sentir sua cabecinha e depois todo seu corpo, de forma consciente, passando por mim, foi (e é ainda viva) a sensação mais incrível que senti como mulher. Eu realmente dei a luz. Eu realmente aceitei meu corpo (mesmo chorando e querendo desistir, eu sabia que não tinha mais como escapar). Aceitei minha força, aceitei meu poder feminino, aceitei fazer parte da criação.

“Nosso temor mais profundo não é que sejamos sem qualidades. Nosso temor mais profundo é que sejamos poderosos além da medida. É nossa luz, não nossa
escuridão, o que mais nos assusta… E à medida que permitimos que nossa própria luz brilhe, inconscientemente nós damos aos outros permissão para fazer o mesmo.
À medida que somos libertados de nosso próprio medo, Nossa presença automaticamente liberta os outros.” Marianne Williamson

 

Deixem as crianças livres

A cada dia eu descubro o quanto eles precisam de disponibilidade. Todas as crianças.
Elas precisam de pessoas que possam aceita-las como são. Pessoas que possam aceitar sua bagunça, gritos, risadas. Aceitar quando estão muito bravas e muito alegres, ou quando querem fazer algo que não pode.
Para ser essa pessoa disponivel a gente precisa se aceitar também como é, com todas as nossas imperfeições, medos, cansaço. Diminuir as expectativas em relação a maternidade é libertador. Eles não são bonecos prontos para serem modelados. Eles são serem livres, com uma bagagem imensa e pronta para ser utilizada nesse mundo.
Aos 2 anos, percebo que é isso que ele quer mostrar: a criança simplesmente é. Ela existe a partir do momento que não faz o que a gente quer e sim o que ela quer. Ela existe quando nos desafia e isso é desafiador pois nós queremos estar no controle.
Sempre me pergunto onde está o limite em permitir que ele seja ele e ser permissiva demais, mas o que sempre vem a minha mente é: por que ele não pode fazer tal coisa? Por um capricho teu ou por segurança mesmo?
Na maioria das vezes meus nãos são por capricho meu, por (sem querer) tentar encaixa-lo num padrão. Também por cansaço, por inconsciência. Enfim.
Ele é criança e precisa de alguém disponível para estar com ele permitindo que ele seja quem é.
Isso é desafiador: criar um ser livre, uma criança selvagem, fora da caixinha…

O olhar sincero e curioso de Brigite

Filha, quando seu irmão tinha mais ou menos a sua idade (11 meses), eu me encantei pelo olhar dele. Tinha algo terno e amoroso. Hoje, olhando pra você eu percebo que há semelhança e preciso escrever para que essa lembrança não se perca: seus olhos expressam a curiosidade e a vida que te preenche. Olhar pra você a cada dia mais esperta e curiosa, descobrindo o mundo que te rodeia, ensinando sobre o tempo, sobre a calma, sobre a paciência. Você veio nos ensinando a sermos leves. Você veio para nos permitir relaxar em meio às turbulências da vida. Você veio como água, na água, para nos permitir fluir!
Eu vejo uma intensa relação com toda minha visão da maternidade depois que você nasceu, com o nosso parto. Você nasceu na água. O parto só aconteceu verdadeiramente, a fase ativa, depois que eu me deixei ser aninhada pela água da banheira. Fluidez, permissão, leveza! Você tem uma força vista a distância, sua pernas e braços demonstram onde querem chegar… ao mesmo tempo, você tem uma leveza, um sorriso de canto e um olhar doce que tiram a gente do chão.

Observar você traz paz. Olhar seus instantes traz calmaria e acalenta meus sentimentos de pressa. Com você aprendi a parar. Com você aprendi que ter dois filhos é inventar e reinventar a minha própria existência, afinal, não é possível dar conta de uma maternidade romântica, ilusória e “certinha” demais. A gente precisa mesmo é da loucura. Nós (mães/seres humanos) precisamos de duas crianças chorando agarradas aos nossos pés para sentirmos impotência; precisamos de duas crianças chamando ao mesmo tempo para sentir a necessidade do momento; nós precisamos da dúvida, precisamos do caos, precisamos da roupa desbotada, desabotoada, desmangolada… precisamos dos cabelos sujos e presos, precisamos da bagunça, pois só assim compreendemos a necessidade da fluidez. Só com muito caos percebemos que o controle não existe e então nos permitimos fluir e inventar nosso jeito de maternar; nos permitimos ser frágeis e não saber a resposta de tudo, buscando aquilo que faz bem ao nosso coração. Com a necessidade de escolha aprendemos que podemos não escolher nada a não ser ficar observando e amando visceralmente aquelas crianças que saíram de nós (do ventre ou do coração). Só com muita bagunça é que a gente entende que o mundo tá todo ao contrário e que talvez maternar possa ser mais leve quando olhamos as bagunças dos outros com amor e empatia.

Filha querida! Você me permitiu ser uma mãe mais desligada, mais simples, menos romântica! Tua alegria com as coisas simples, com ou colo, uma dança, um mamá, me ensinam que é isso que vale a pena: os momento, instantes pequenos.

O momento da calmaria pode não chegar… o momento que desejamos pode não chegar… o futuro não existe! Mas a gente pode, com todo amor, transformar nosso agora, esse instante, em uma existência leve, sem culpas, sem cobranças, sem expectativas. Podemos olhar os olhinhos atentos das crianças e perceber onde largamos os nossos olhos atentos e brincantes!
Onde foi que deixamos nossa criança interior perdida? Por que a deixamos? Será que ainda dá tempo de resgatá-la?
Eu percebo com muita clareza que pra mim, a maternidade só flui, quando trago minha criança para brincar, cantar, dançar, nadar, sorrir e alegrar o dia. A mãe “certinha, séria e responsável demais” não dá conta de abraçar e olhar para as crianças de igual para igual, e assim flui por aqui: somos iguais! Nossos choros e sorrisos. Não há autoridade imposta ou disciplina exigida, há colaboração baseada no amor.
Filha, teus olhos são um encanto e mudam minha vida a cada piscar.

Você é luz na minha vida.

 

O segredo da aceitação e do desapego

Deixa a dor doer, o choro vir. Se permita chorar até cansar. Se permita sentir o aperto no peito, aquele momento que parece que nunca mais vai passar. Deixa passar. Permite que esse momento também passe. Não se prenda a nada. Desapegue do motivo do choro e depois desapegue do choro. Desapegue da dor. Desapegue do motivo da dor. Desapegue da necessidade em sentir a dor, da necessidade em compreender a dor. Apenas sinta!
Sinta o choro, o aperto no peito. Sinta a tristeza, a raiva, a frustração. Sinta, e deixe o sentimento ir embora. Ele não é seu, ele é do mundo. Nada é seu. Por mais que pareça que essa dor imensa te pertence, ela não pertence a você. Desapegar dos sentimentos, dores, motivos e pensamentos é deixar morrer o que já não cabe mais em seu ser. É permitir que morram partes suas que precisam ser jogadas ao vento e depois banhadas pela chuva.
Desapegar é exercício de morte, mas também é exercício de vida.
Desapegar é deixar viver o novo, abrir espaço, semear novas terras, acreditar em novos tempos. Desapegar é sentir-se parte da fluidez do Universo. Desapegar é mais do que doar roupas, sapatos, matéria. Desapegar é permitir que a flor da esperança desabroche, que o céu se torne rosa mais uma vez quando o sol se põe e permitir que a chuva caia e alimente a alma.
Desapegar é exercício de vida. É reconhecimento dos ciclos, reconhecimento das lágrimas e sorrisos. Desapegar é permitir que a nossa raiz se conecte ao centro da terra e nossas ideias ganhem os céus. Desapegar é deixar de sentir-se só no Universo para sentir-se filha do Universo. Filha da Terra. Nutrida pela Terra, embalada, acariciada e acolhida.
Deixar fluir é decisão. Aceitação da Grande Mãe, aceitação do amor.
Aceitar que alguém nos ama e que nós somos seres incríveis é mais difícil do que aceitar que somos ruins. Olhar para o quanto somos bons é mais difícil do que aceitar as sombras, isso não apenas como fuga do ego, mas com iluminação do grande Eu, nosso Self amoroso que nos acende a luz da consciência.
Acender a luz da consciência é conectar nosso coração ao coração da Terra.
De forma prática: desapegar, deixar fluir e aceitar é o mesmo que chorar até cansar, tirar o sapato, pisar na terra, sentir o chão, sentar ao ar livre, respirar e pedir o colo da Grande Mãe. Aceitar que não precisamos estar sozinhas combatendo o mundo, mas podemos estar juntas, unidas, umas às outras, amando nossas próprias jornadas e permitindo-se a liberdade de sermos quem somos. De soltarmos o cabelo, a roupa, as amarras. De levantarmos os braços em direção ao céu, como árvores que buscam o sol, mas ao mesmo tempo deixar os pés sentirem a vibração da terra como quem se sente em casa.
Fluidez é amar. É se sentir parte!
Tu és Filha dessa Terra. Filha do amor universal. Tu és o amor universal, parte do todo, irmã de cada uma e de cada um. Tu és coração, e a fluidez do mundo se dará quando nos sentirmos todos corações, filhos e filhas da terra, amados e amadores do Universo!
Flua! Liberte-se! Solte-se!
Aceite

 

 

Nicoly Kulcheski Lachovicz

 

 

 

Vem, pisa na terra!

Pisa na terra. Sente o movimento do mundo. Sente o movimento suave da Terra neste momento e se liberta. Se liberta do fluxo constante da permanência e percebe que tudo é movimento. O vento, o ar ao teu redor, tuas células. Todo o teu corpo, teu coração, teu espírito. O movimento nos torna livres. A necessidade de sermos estáticos nos aprisiona, pois vamos contra nossa natureza. Permita-se sentir a Mãe Terra respirar, sentindo o vento e lembrando que você também respira. E que tua respiração quente te mantém viva e em movimento. Crie. Crie as alternativas que você precisa para encontrar a verdadeira tranquilidade, dentro de você. Não há ninguém nesse mundo (ou em outros) que possa te dar uma fórmula, uma receita, uma magia, um livro, ou qualquer outra forma de conhecimento que te diga o que é necessário para que você esteja em paz e feliz. Essa é uma informação que já está gravada dentro de você, desde o dia em que você nasceu, basta acioná-la. Basta entrar em contato com a sua essência livre e amorosa. Basta fazer a escolha de se reconectar com a natureza. Nenhum livro irá te mostrar o caminho. Nenhuma outra pessoa, por mais sábia que seja, te mostrará o caminho para dentro de si mesma. Cada coração só pode ser aberto pelo contato entre a alma que o fecunda. Somos nós conosco mesmas. Sozinhas e em comunhão com o nosso sagrado. A dica: Pisa na Terra! Sente o respiro de Pachamama. Ouve as músicas mais belas que vem dos pássaros, do mar, da chuva. Sente que toda a beleza da natureza é você e você é parte de toda a natureza. Você é grandiosa como o mar e pequena como uma flor. Você é parte de um todo complexo e simples ao mesmo tempo. A simplicidade do olhar de uma criança. Pare neste momento e pense no que você verdadeiramente veio fazer neste mundo. O que verdadeiramente você veio aprender e o que veio ensinar, para si mesma. Qual tua tarefa. Qual tua missão. O mundo precisa de você desperta. O mundo precisa de você para construir caminhos de amor. Vem pra dentro buscando o ar da simplicidade que te habita e torna tudo mais fácil, mais colorido e desperto. Vem para o lugar onde tudo é belo e tudo tem um motivo importante para o seu crescimento: cada dor, cada sorriso, cada pessoa ao teu redor – tudo na missão de te despertar para a essência, para o amor, para a natureza interna da sua alma.

Pisa na Terra, sente o movimento contínuo, nada para, nada dorme. Tudo está acordado, desperto. Esse é o convite do mundo para você: desperte… desperte… Chegou a hora de acordar. Acordar para si e para o dia de amor e gratidão que te espera. Chegou o momento de realizar os sonhos, mais profundos, que adormeceram em tua alma.

Pisa na Terra e sente o sol, sente a chuva, sente o vento. Sente teus irmãos natureza a te bagunçar os pensamentos. Permita-se, abrace o momento de ser você mesma.

Pisa na Terra e abra-se para o Universo incrível que é o seu interior. Abrace e abra-se.

Vem… desperta… pisa na terra!