Filha, quando seu irmão tinha mais ou menos a sua idade (11 meses), eu me encantei pelo olhar dele. Tinha algo terno e amoroso. Hoje, olhando pra você eu percebo que há semelhança e preciso escrever para que essa lembrança não se perca: seus olhos expressam a curiosidade e a vida que te preenche. Olhar pra você a cada dia mais esperta e curiosa, descobrindo o mundo que te rodeia, ensinando sobre o tempo, sobre a calma, sobre a paciência. Você veio nos ensinando a sermos leves. Você veio para nos permitir relaxar em meio às turbulências da vida. Você veio como água, na água, para nos permitir fluir!
Eu vejo uma intensa relação com toda minha visão da maternidade depois que você nasceu, com o nosso parto. Você nasceu na água. O parto só aconteceu verdadeiramente, a fase ativa, depois que eu me deixei ser aninhada pela água da banheira. Fluidez, permissão, leveza! Você tem uma força vista a distância, sua pernas e braços demonstram onde querem chegar… ao mesmo tempo, você tem uma leveza, um sorriso de canto e um olhar doce que tiram a gente do chão.

Observar você traz paz. Olhar seus instantes traz calmaria e acalenta meus sentimentos de pressa. Com você aprendi a parar. Com você aprendi que ter dois filhos é inventar e reinventar a minha própria existência, afinal, não é possível dar conta de uma maternidade romântica, ilusória e “certinha” demais. A gente precisa mesmo é da loucura. Nós (mães/seres humanos) precisamos de duas crianças chorando agarradas aos nossos pés para sentirmos impotência; precisamos de duas crianças chamando ao mesmo tempo para sentir a necessidade do momento; nós precisamos da dúvida, precisamos do caos, precisamos da roupa desbotada, desabotoada, desmangolada… precisamos dos cabelos sujos e presos, precisamos da bagunça, pois só assim compreendemos a necessidade da fluidez. Só com muito caos percebemos que o controle não existe e então nos permitimos fluir e inventar nosso jeito de maternar; nos permitimos ser frágeis e não saber a resposta de tudo, buscando aquilo que faz bem ao nosso coração. Com a necessidade de escolha aprendemos que podemos não escolher nada a não ser ficar observando e amando visceralmente aquelas crianças que saíram de nós (do ventre ou do coração). Só com muita bagunça é que a gente entende que o mundo tá todo ao contrário e que talvez maternar possa ser mais leve quando olhamos as bagunças dos outros com amor e empatia.

Filha querida! Você me permitiu ser uma mãe mais desligada, mais simples, menos romântica! Tua alegria com as coisas simples, com ou colo, uma dança, um mamá, me ensinam que é isso que vale a pena: os momento, instantes pequenos.

O momento da calmaria pode não chegar… o momento que desejamos pode não chegar… o futuro não existe! Mas a gente pode, com todo amor, transformar nosso agora, esse instante, em uma existência leve, sem culpas, sem cobranças, sem expectativas. Podemos olhar os olhinhos atentos das crianças e perceber onde largamos os nossos olhos atentos e brincantes!
Onde foi que deixamos nossa criança interior perdida? Por que a deixamos? Será que ainda dá tempo de resgatá-la?
Eu percebo com muita clareza que pra mim, a maternidade só flui, quando trago minha criança para brincar, cantar, dançar, nadar, sorrir e alegrar o dia. A mãe “certinha, séria e responsável demais” não dá conta de abraçar e olhar para as crianças de igual para igual, e assim flui por aqui: somos iguais! Nossos choros e sorrisos. Não há autoridade imposta ou disciplina exigida, há colaboração baseada no amor.
Filha, teus olhos são um encanto e mudam minha vida a cada piscar.

Você é luz na minha vida.

 

Um comentário sobre “O olhar sincero e curioso de Brigite

  1. Que maravilhoso momento que me dei ao ler estas palavras…lindas, verdadeiras e libertadoras!!!! Obrigada Nicoly, por curar todas nós, obrigada Brigite, por nos permitir.

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